Vida Freela

O que eu aprendi vivendo quase dois anos como dev freelancer.

Paula Grangeiro
Paula Grangeiro

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#PraCegoVer Um homem, com olhar desolador, segurando um cartaz com as inscrições "Will code HTML for Food. Please help."

Em janeiro de 2017 iniciei uma jornada pela busca da carreira como dev freelancer. Naquele ano, estaria completando 10 anos no mercado trabalhando exclusivamente com desenvolvimento de software para a web (ora backend, ora ponta-a-ponta). No ano anterior eu já havia dado entrada no meu CNPJ e aceitado alguns freelas para complementar a renda. Mas em 2017 a meta era tornar aquilo a minha principal atividade. Viver a utopia que tantos profissionais almejam: a autonomia profissional.

The cake is a lie*

Utopia porque todos que compartilham suas experiências como freelancers, compartilham apenas as boas novas. E não é por mal, afinal ninguém vai sair por aí compartilhando fotos de momentos ruins (como a pilha de boletos que não pára de chegar, o email mal humarado do cliente ou a conta bancária com saldo negativo), mas é fato de que eles existem numa proporção igualitária aos momentos bons.

Eu havia me lançado na carreira freelancer para ter mais tempo para a minha família, meus jogos e para os eventos de tecnologia. E esta foi contraditoriamente a época em que menos pude desfrutar de qualquer uma dessas coisas. Simplesmente porque qualquer hora a menos trabalhada influenciava diretamente no meu bolso e, no fim do mês, quando as contas não batem ou surgem imprevistos, é difícil (pra não dizer impossível) não sentir remorso por não aceitar aquele projeto ridículo naquela linguagem que você odeia.

E é incrivelmente pior quando você aceita.

E você tem que concentrar todo foco, força e fé para finalizar aquele projeto que mais parece um esquema de pirâmide, só que em PHP, pois o seu planejamento financeiro depende disso. Chame-me de ingênua, mas depois de todos esses anos nessa indústria vital, eu realmente acreditava que agora seria capaz de tocar somente projetos de meu interesse (e não aqueles mesmos CRUDs de sempre). O que eu aprendi é que não existe autonomia profissional quando o inverno chega.

#PraCegoVer Uma animação (gif) do Pica-pau rindo da cara da fome.

Hoje completo 5 meses fora dessa vida. Em agosto de 2018, devido à uma sequência de metas de planejamento não batidas, me mudei para São Paulo para trabalhar numa multinacional. Aceitei dar um passo a frente, só que em um caminho diferente, para seguir caminhando. Se faria tudo isso novamente? Com certeza! Me considero bem menos arrogante com o meu trabalho, principalmente quando coloca comida em minha mesa, e que ser desenvolvedora de software (seja empregada ou por conta própria) é bem mais além do que simplesmente codar (e essa, senhora e senhores, é a parte mais fácil!).

E se você neste momento está buscando iniciar a sua carreira como freelancer, deixo aqui uma palestra que dei na última Python Sudeste sobre o assunto.

O que eu aprendi como freelancer? É que eu ainda tenho muito a aprender.

  • The cake is a lie é uma referencia do jogo Portal, onde a personagem principal deve concluir uma sequência de labirintos na promessa de receber um delicioso bolo.

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Programadora por profissão, desenhista nas horas vagas e colecionadora de gatos.